sexta-feira, 26 de junho de 2009

Dá Que Pensar...


Parábola da felicidade



Após uma caminhada exaustiva pelo campo, os quatro amigos sentaram-se à beira do caminho, debaixo da sombra de uma velha árvore. Era a única árvore numa plantação de melancias. Era como se representasse, com dignidade a espécie das árvores, num planeta onde alguns humanos não importam em destruí-las em nome de um progresso duvidoso.
Aquele era o local preferido dos rapazes - melancias à vontade! Aquele dia era especial... terminaram o curso e, provavelmente, seria a última vez que caminhariam juntos. Embora nem admitissem, estavam conscientes do momento e não perceberam o estranho brilho pairando sobre a copa da árvore.
Não fiquem tristes, nós nos veremos novamente...
Os amigos se entreolharam, espantados.
Quem disse isso? perguntou Eduardo, intrigado.
A voz era suave e nem parecida com nenhum deles.
- Ouvi! confirmou Pedro.
- Parece que veio lá de cima.
- Também escutei! disse Silas.
- Estranho! comentou António. Acho que apanhamos sol demais pelo caminho.
- Ei! exclamou Silas. Vocês estão notando uma luz estranha no alto da árvore?
Todos olharam para cima.
- É verdade. Vai ver é um disco voador!
Escutaram a voz novamente:
- Não é brincadeira! Eu posso atender um pedido de cada um de vocês para que sejam felizes...
O susto foi grande. Uma árvore falante! Árvores não falam! Ou falam? O conhecimento científico, impõe-se de maneira preponderante, de tal forma que acabamos por crer apenas no que conseguimos pesar, medir, reduzir, ao mesmo tempo que passamos a recusar tudo o que não se enquadre nesses experimentos científicos.
- Vo... você é um tipo de árvore da felicidade? perguntou António.
- Não importa agora. Façam logo os seus pedidos...
- Quero ser o homem mais rico do mundo! falou António, superando os instantes de incredulidade. Ninguém consegue ser feliz sem dinheiro.
Silas pediu:
- Quero ser o homem mais amado do mundo, já que dinheiro não traz felicidade.
Eduardo falou:
- Eu quero ser muito inteligente! E também jovem! Juventude e inteligência são, sem dúvida, as maiores felicidades.
Pedro pediu:
- Eu quero ser o homem mais famoso, com glória.
E todos riram. Rapidamente a copa da árvore mudou de cor, soltou um estranho zunido e, por fim, subiu velozmente para o céu, deixando um rastro luminoso e os quatro amigos boquiabertos. O tempo passou... Cada um seguiu o seu caminho. Conforme pediram, os seus desejos foram realizados, embora não tivessem conseguido a tão ansiada felicidade...
António tornou-se o homem mais rico, graças a uma estranha sorte no mundo dos negócios. Acumulara fortuna, mas a riqueza só lhe trouxe problemas. Nunca tinha certeza se as pessoas que conviviam ao seu redor estavam interessadas nele ou na sua fortuna, e por isso ia tornando-se taciturno, entediado, egoísta, isolando-se de todos. Só saía protegido por guarda-costas, com medo de sequestros.
Silas, por sua vez, era muito amado. Ainda que fizesse as piores maldades, seus fanáticos admiradores sorriam para ele e adoravam-no. Mas sentia-se muito só. Não fazia diferença como tratava as pessoas: o resultado era o mesmo. Tinha muitas mulheres, mas não amava nenhuma. O amor das pessoas, sem que fizesse nada para conquistá-lo, tornou-o cruel e perverso. Sentia prazer em maltratar as pessoas.
Eduardo permanecia jovem e inteligente. Era requisitado para palestras pelo mundo todo. Governantes solicitavam a sua sabedoria. Mas era infeliz e solitário. Era alvo constante da inveja das pessoas. Coisas simples como sair à rua ou ter amigos, era impossível agora. Vivia recluso, para evitar os jornalistas e a milhares de convites para apresentações em público.
António, Silas e Pedro viam a morte como libertadora de tanta infelicidade e frustração. Para Eduardo, sempre jovem, pensava ele mesmo dar fim a sua vida infeliz.
1990... 1996... 2000... 2003... 2008...Embora nunca mais se tivessem encontrado depois daquele dia, os quatro mantinham o hábito de olhar o céu em noites estreladas, à procura de um estranho brilho esverdeado. Um dia, os quatro largaram tudo e fugiram. Viram-se novamente no local da velha árvore.
- Fomos enganados. Mas o que podemos fazer agora? E choraram, abraçados um ao outro.
- Foram vocês que escolheram assim!
- A voz! Maldita! Maldita! Você nos enganou com a sua conversa de felicidade! esbravejou Pedro.- Vocês se enganaram. Todos sempre se enganam, quando acham que para ser feliz é preciso alguma condição como dinheiro, inteligência, juventude, amor ou glória...
- Pelo amor de Deus! Filosofia barata não! Já estou farto de conselhos! falou António. Você prometeu felicidade, mas hoje, olhe para nós: somos os homens mais infelizes do mundo!
- Vocês quiseram ser felizes. Fizeram seus pedidos e foram atendidos. Mas esqueceram que a FELICIDADE NÃO PODE SER POSSUÍDA... TEM QUE SER CONQUISTADA, ASSIM COMO O AMOR E A LIBERDADE. Cada pessoa sobre a Terra é um ser único e imprevisível. Não existem fórmulas ou soluções que sirvam para todos. Cada um precisa escolher o seu próprio caminho e o seu jeito de caminhar! Vocês terão uma nova oportunidade...
- E como será essa nova oportunidade? perguntou Pedro. Mas não ouviram resposta. De novo o rastro prateado confundiu-se com o brilho das estrelas.
- Já é noite! surpreendeu-se Silas. Mas como? Será que dormimos os quatro ao mesmo tempo? Eram novamente jovens, ainda cansados pela caminhada, a última que faziam como internos do colégio.
- Engraçado... aconteceu alguma coisa que não me consigo lembrar...disse António. Os quatro levantaram-se e já iam pôr-se a caminho, quando António reparou num pedaço de papel esverdeado pregado na árvore.
- Um bilhete! E é para nós! verificou Silas. Ninguém sabia quem tinha deixado aquilo. O bilhete tinha escrito:

AMIGOS QUERIDOS,
Ninguém precisa de riqueza, poder, fama, juventude, inteligência, ou qualquer outra coisa para ser feliz. A felicidade não pode ser comprada. Ela é fruto do nosso compromisso com a paz, a justiça, a alegria, o equilíbrio entre os seres do planeta, pois não é só a nossa felicidade que importa, mas a dos que virão depois de nós e de nossos filhos. Ser feliz é isso: aproveitar intensamente este presente cotidiano – A VIDA - vivê-la plenamente e permitir que os outros também façam o mesmo. Afinal, vivemos um dia de cada vez e quem deixa o seu tempo presente preocupado com o que ainda não aconteceu ou angustiado pelo que já passou, perde a oportunidade de ser feliz AQUI E AGORA e, um dia, sem que se saiba quando, será tarde para voltar atrás. No caminho de volta, entre milhares de estrelas, havia agora um brilho esverdeado, cuja luz parecia ter compartilhado daquele estranho acontecimento...

Dá que pensar...

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