quarta-feira, 22 de abril de 2009
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Pescadores sem dinheiro para comer
Metade das quatrocentas famílias de pescadores da Costa de Caparica, Trafaria e Fonte da Telha está a passar fome, resultado da crise e das intempéries. A denúncia é de Lídio Galinho, presidente da delegação do Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Sul na Costa de Caparica, e está a verificar-se no resto do País.
De acordo com o sindicalista, os pescadores são uma classe envelhecida, que todos os dias trava uma batalha pela sobrevivência. 'Há pescadores com 80 anos a irem para o mar porque não conseguem sobreviver com as reformas de miséria que recebem.' Contudo, adianta, 'por vergonha, nem todos admitem passar dificuldades, o que dá ao problema uma dimensão de miséria encoberta'.
O sindicalista é também o espelho da situação de dificuldade vivida pelos pescadores. 'Sou reformado e tenho de andar no mar, pois a minha reforma de 250 euros não chega. A minha mulher está acamada e só um medicamento para ela custa 160 euros, quantia que não podemos pagar só com as nossas reformas.'
Devido às intempéries das últimos semanas, os pescadores tiveram de ficar em terra, o que lhes complicou a vida. 'Tivemos quinze ou vinte dias sem pescar. Hoje [ontem] fomos e a rede não trouxe quase nada', disse José Martins Figueiredo, de 69 anos, que, apesar de estar reformado, continua a pescar.
Já Fernando Costa garante que 'há meses que não ganham para comer'. 'Vivemos com muitas dificuldades e, aqui, se não forem os mais velhos, ninguém anda no mar', disse. Pescador desde os 14 anos na Fonte da Telha, Fernando Costa não vê melhoras num futuro próximo. 'Hoje [ontem] gastámos muita gasolina e só pescámos 20 quilos de peixe. Vai dar 20 euros a cada um dos quatro pescadores deste barco.'
'SE NÃO FOSSE A AJUDA DA FAMÍLIA PASSAVA MAL'
Joaquim Santos esteve sem trabalhar durante 11 dias. Ontem voltou ao mar, mas este mês não vai conseguir pagar todas as despesas. 'As contas já se vão acumulando. Pago 300 euros de renda da casa, mas este mês vai ter de ficar para trás. Se não fosse a ajuda da minha família, passava bastante mal', confessa.
O pescador, de 40 anos, garante que não é o único nesta situação. 'Grande parte das famílias de pescadores já passa mal. A situação ainda é mais grave nas pessoas idosas porque já não têm tanta genica para trabalhar.'
'MUITAS VEZES TEMOS DE PEDIR PARA SOBREVIVER'
A história de Arminda é igual à de muitas outras famílias de pescadores das Caxinas, em Vila do Conde. O marido possui um pequeno barco no qual todos os dias parte para o mar em busca do sustento para a família. Arminda fica em terra à espera de que o marido regresse para, pelas ruas, tentar vender a pescada que depois de Março ficou proibida de vender na lota.
A mãe, já reformada, fica a vigiar para ver se não são apanhadas pela polícia.
'Escondo o peixe e tento vendê-lo nas ruas. Não nos deixam vender a pescada, mas também só podemos ficar com dois quilos para consumo próprio. Temos de deitar peixe ao lixo quando há dias em que passamos fome' conta.
O dinheiro da venda de peixe não chega e três dias por semana a mulher do pescador tem ainda de trabalhar nas limpezas. Mas é quando o mau tempo chega e o barco não pode sair para o mar que a situação se torna complicada.
'O barco, por vezes, passa semanas sem ir ao mar. Nesses dias, não ganhamos nada, muitas vezes temos de pedir para não passarmos fome e sobreviver', explica.
Apesar das dificuldades, o amor pela profissão é maior. David Lopes anda no mar há vários anos e diz que não sabe fazer outra coisa na vida. 'É muito complicado e passamos muitas dificuldades. Neste momento, sou o sustento da casa, pois a minha mulher está desempregada. Não percebo: os preços do peixe estão muito baixos e, mesmo assim, ninguém comprar' afirma.
COMIDA É DADA POR FAMILIARES
'Tenho água e luz em atraso, a comida vem de familiares e a renda é paga com dinheiro emprestado por vizinhos', confessa José Manjua, 61 anos, há 35 viveirista na Ria Formosa, no Algarve. As queixas aumentam agora que a apanha de bivalves está interdita depois de análises acusarem biotoxinas nas águas da Ria (ver apontamentos). 'Nunca vi tanta dificuldade como agora', conta José Manjua. 'Se isto não se resolver ainda tenho de assaltar a casa a algum político', ironiza, 'se não se resolver, se calhar vou pedir emprego à Câmara'.
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